Aprender da vida, apreender a vida, envolver-se com a vida, descobrir o sentido da vida é dever de ofício do ser humano. Todos entendem, uns mais, outros menos, que descobrir o prosaico e o inusitado, o transparente e o misterioso, o epidérmico e o profundo é sempre grande desafio no aprendizado da vida, é dever de casa de quem pretende conhecer o caminho da felicidade e da convivência com os demais seres do mundo.
Um dia, recebi um presente de um amigo, no meu aniversário, com os cumprimentos pelos anos de experiência acumulada (não se referiu à vida). A frase soou como advertência: cada homem, cada mulher, é uma série de experiências, um desenho feito de partes colhidas no/do mundo, que se acumulam e constroem a personalidade e os bens da pessoa. Há os que somam, só somam, e não fazem as quatro operações aprendidas desde a infância. Não diminuem, não multiplicam, não dividem. Não distinguem o essencial do secundário, o significativo do desimportante.
Ganhar ou perder a vida, ganhar ou perder na vida, ganhar ou perder da vida, eis o que o cotidiano cobra de cada um. Há os que investem, e muito, só no pequeno, no varejo, e descobrem ter, assim, construído a sua derrota como homem, como mulher. Daí por que escreveu Hugo Grocio, com desalento: "Perdi minha vida fazendo ninharias com muito trabalho." Importa, em certa hora, dar-se conta de que não basta acumular/somar.
É preciso substituir/diminuir. Aí surge outra questão importante: é necessário abrir espaço no interior do coração e da inteligência porque todo tempo atual está sendo usado, todo lugar está sendo ocupado. Há os que só acrescentam quando o aconselhável, para não dizer o imprescindível, é substituir algumas idéias que se têm, é ter coragem e ousadia para mudá-las. E mais: aprender na/da/para a vida é muito importante; desaprender, em certos momentos, o que estorva, impede, afasta e compromete o viver com qualidade é desafio que não pode ser deixado de lado, mas assumido com determinação.
O conservadorismo é atitude comum, diria normal, no comportamento humano, mais fácil de ser mantido do que alterado, quer se refira a valores, quer a hábitos. Desaprender o errado, o inútil, o inconveniente, o disfuncional é um jeito de criar condições para que novas idéias, novos valores, novas posturas sejam adotadas no dia a dia.
A importância de aprender sempre foi ensinada a todos. Já cultivar uma atitude de desaprender o aprendido, quando não mais adequado, é pouco usual. Aprender da vida, apreender a vida, envolver-se com a vida, descobrir o sentido da vida, não é esse o caminho da lucidez? Desaprender o errado, o inconveniente, o disfuncional, o inútil, não é o necessário para abrir espaço à substituição/renovação de idéias e valores imprescindíveis à mudança de cada um na vida?
Texto: Máximo Trevisan
Advogado e escritor